Georges Martins é escritor de ficção e médico veterinário encontrando-se neste momento a escrever o seu terceiro romance.
Georges tem um Blogue de pequenos contos onde podes ler dezenas de histórias!
Blogue “Contos em 30 minutos”
Um conto escrito desde o início ao fim em 30 minutos.
"Fogo!"
Alguém no corredor do 8º andar gritava a fatídica palavra. Uma palavra que inspira medo em todas as línguas, principalmente quando é gritada a meio da noite e se tem um filho de 2 anos para cuidar.
Este foi o acordar de Lucy, numa noite nova-iorquina nos meados do século XIX. Lucy correu para a cama do filho e arrancou a criança do sono e da cama. Pegou nele e correu porta fora.
(…)
Albert descansava encostado ao muro da trincheira. A metralhadora germânica cantava a sua canção fatal. Balas aterraram mesmo em frente de Albert levantando pequenas nuvens de pó.
James chamou por Albert. James estava a uns metros abaixo e usava um periscópio para ver a linha dos inimigos. A colina de Ypres estava adiante mas não era visível. Albert encostou os olhos ao periscópio e viu uma parede amarela. Mas não era uma parede, era uma nuvem, um nevoeiro denso e impenetrável. O vento estava contra eles e a densa massa gasosa movia-se na direção deles.
Os disparos da linha inimiga continuavam.
O amarelo nevoeiro, não mais que 10 metros de altura, estava a meros metros deles. Um cheiro feriu o nariz de Albert, um enjoativo cheiro a alho e rabanete. Os olhos de Albert começaram a chorar. (…)
Um esguio homem gesticulava enquanto contava uma ridícula história sobre um estranho planeta num tempo onde todos os relógios foram destruídos.
“Quem é aquele interessante senhor?” Perguntou uma mulher. Rupert não se tinha apercebido que alguém se tinha aproximado. A sala de estar era maior que o seu apartamento. Cada vestimenta ali exposta e cuidadosamente medida para se acomodar ao utilizador valia mais que toda a sua roupa junta.
“É o Doutor.” Respondeu Rupert, soltando um leve sorriso.
“Doutor Quem [Doctor Who]?”
Um homem de seus quarenta anos descia umas escadas de madeira para uma cave. Acendeu a luz e esta revelou uma enorme cave. Montes de velharias acumulavam e ocupavam o espaço. Uma bicicleta coberta de uma camada de pó de pelo menos 10 anos estava deitada no chão perto de uma porta. O homem dirigiu-se à porta e entrou.
O seu escritório estabelecia uma enorme diferença face à cave por pintar: iluminada, estava tudo arrumado, limpo e os objetos eram da presente década. Mais ninguém estava na divisão. A principal faceta da sala eram as enormes estantes repletas de dossiers, a outra era uma única secretária que se encontrava no centro da divisão. Nesta repousava um telefone de disco, um bloco de notas aberto e uma caneta com a tampa por pôr. A tampa nem vê-la.
Cesare Borgia chegou com a sua corte a Imola, a fortificada vila do interior italiano. Na sua companhia vinha o colorido Leonardo, nascido em Vinci. Borgia mandou um dos seus assistentes buscar Leonardo.
Meia hora passou e o engenheiro, pintor, escultor, naturalista, bem… o génio, chegou junto do implacável Borgia.
“Leonardo! Quero que faças um mapa de Imola. Quero conhecer as defesas do forte onde estamos e quero um mapa detalhado da vila.” Ordenou Borgia.
A noite já cobria o dia com o seu assustador véu negro. O vento assobiava alto. O Sr. Smith chegou a casa do trabalho, do seu último dia de trabalho da sua vida – reformara-se aos 74 anos, depois de mais de 50 anos numa mina de carvão.
Smith, coberto de carvão, quase invisível nas ruas escuras de Birmingham, marcava um enorme contraste com a bela casa que a sua esposa mantinha. Tudo limpo e arrumado, não haviam riquezas ali, mas havia comida na mesa, e teto sobre as suas cabeças. E como acrescentava sempre a sua esposa que era friorenta: “E uns toros na lareira pra nos aquecer os ossos!” Ruth dizia sempre isto sempre que se falava sobre a situação deles, e sorria sempre o mesmo sorriso, amarelo e sem um dos incisivos superiores. Mas verdadeiro!
“Boa tarde Sô Dona Josefina. Que se passa com o Kiko?”
“O meu Kikinho tem estado a vomitar bastante… Hoje de manhã cheguei a casa… sabe, estive uns dias fora com umas amigas. Fomos passar uns dias ao Algarve.”
“Muito bem… E o Kiko tem vomitado desde quando?” Perguntou o Veterinário.
“Não sei Doutor, estive fora como lhe estava a dizer. O meu marido não notou nada até esta manhã.” Josefina segurava em mãos um embrulho feito de um cobertor e um pinscher preto e castanho. O pequeno e lingrinhas cão mal abria a boca e tinha saliva em seus lábios.
Um batedor de rodas de comboio por detrás dos montes comete um inocente erro que vai sair caro a muita gente.
“É oficial, pela primeira vez na história da humanidade, uma nação soberana é adquirida por uma empresa privada. O nosso país, que até hoje se chamava Portugal, vai a partir do dia 1 de janeiro chamar-se Booglândia" Anunciou o locutor das notícias.
Frederick olhou para o seu relógio de bolso. Estava parado, marcava umas eternas 9 horas. Olhou para cima e o relógio da estação de Paddington caminhava visivelmente para as 9 horas.
Quando o ponteiro dos minutos se elevou completamente numa perfeita verticalidade, as 9 horas de Londres tinham chegado. Frederick pressionou o botão do seu relógio e este iniciou o seu mover, quase imperceptível, mas presente.